Falácias e Sofismas

Várias discussões na Voadores tentam ser sustentadas através do uso de argumentos inválidos, conhecidos em Lógica como "falácias" (quando involuntários) ou "sofismas" (os mal-intencionados). Seu uso é bastante frequente na defesa de posturas contrárias aos propósitos da lista, tais como flames, spams, fundamentalismos, ceticismo pseudo-científico; bem como nas constantes propagandas de idelogias, religiões ou uso de alucinógenos (ou "enteógenos", se usarmos a "falácia do eufemismo"). Para ajudar a identificá-las - e combatê-las - segue um pequeno "guia do discernimento".


Falácia


Uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, inválido, ou falho na capacidade de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica ou emotiva, mas não validade lógica.

É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia.

Tipologia das falácias - com exemplos

(Alguns dos nomes usados estão em latim, com a tradução ao lado.)

Argumentum ad antiquitatem (Argumento de antiguidade ou tradição):

Afirmar que algo é verdadeiro ou bom porque é antigo ou "sempre foi assim".

Ex: "Se o meu avô diz que Garrincha foi melhor que Pelé, deve ser verdade."


Argumentum ad hominem (Ataque ao argumentador):

Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.

Ex: "Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo".


Argumentum ad ignorantiam (Argumento da Ignorância):

Ocorre quando algo é considerado verdadeiro simplesmente porque não foi provado que é falso (ou provar que algo é falso por não haver provas de que seja verdade). Note que é diferente do princípio científico de se considerar falso até que seja provado que é verdadeiro.

Ex: "Existe vida em outro planeta, pois nunca provaram o contrário"


Non sequitur (Não segue):

Tipo de falácia na qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.

Ex: "Que nome complicado tem este futebolista. Deve jogar muita bola!"


Argumentum ad Baculum (Apelo à Força):

Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.

Ex: "Acredite em Deus, senão queimará eternamente no Inferno."
"Acredite no que eu digo; não se esqueça de quem é que paga o seu salário"


Argumentum ad populum (Apelo ao Povo):

É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.

Ex: "A maioria das pessoas acredita em alienígenas, portanto eles existem."
"Inúmeras pessoas usam essa marca de roupa; portanto, ela possui um tecido de melhor qualidade."


Argumentum ad Verecundiam (Apelo à autoridade):

Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.

Ex: "Se Aristóteles disse isto, então é verdade."


Dicto Simpliciter' (Regra geral):

Ocorre quando uma regra geral é aplicada a um caso particular onde a regra não deveria ser aplicada.

Ex: "Se você matou alguém, deve ir para a cadeia." (não se aplica a certos casos de profissionais de segurança)


Generalização Apressada (Falsa indução):

É o oposto do Dicto Simpliciter. Ocorre quando uma regra específica é atribuída ao caso genérico.

Ex: "Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição."


Falácia de Composição (Tomar o todo pela parte):

É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.

Ex: "Este caminhão é composto apenas por componentes leves, logo ele é leve também."


Falácia da Divisão (Tomar a parte pelo todo):

Oposto da falácia de composição. Assume que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.

Ex: "Você deve ser rico, pois estuda em um colégio de ricos."


Falácia do homem de palha:

Consiste em criar idéias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.

Ex: "Meu adversário, por ser de um partido de esquerda, é a favor do comunismo radical, e quer retirar todas as suas posses, além de ocupar as suas casas com pessoas que você não conhece."


Cum hoc ergo propter hoc : (falsa causa)

Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos eles estão relacionados.

Ex: "O Guarani vai ganhar o jogo de hoje porque hoje é quinta-feira e até agora ele ganhou em todas as quintas-feiras em que jogou."


Post hoc ergo propter hoc :

Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causa e efeito.

Ex: "O Japão rendeu-se logo após a utilização das bombas atômicas por parte dos EUA. Portanto, a paz foi alcançada devido à utilização das armas nucleares."


Petitio Principii :

Ocorre quando as premissas são tão questionáveis quanto a conclusão alcançada.

Ex: "Sócrates tentou corromper a juventude da Grécia, logo foi justo condená-lo à morte."


Circulus in Demonstrando :

Ocorre quando alguém assume como premissa a conclusão a que se quer chegar.

Ex: "Sabemos que Joãozinho diz a verdade pois muitas pessoas dizem isso. E sabemos que Joãozinho diz a verdade pois nós o conhecemos."


Falácia da Pressuposição :

Consiste na inclusão de uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, ou seja, na falta de uma premissa.

Ex: "Você já parou de bater na sua esposa?"


Ignoratio Elenchi (Conclusão sofismática):

Ou "Falácia da Conclusão Irrelevante". Consiste em utilizar argumentos válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados.

Ex: "Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formação acadêmica e intelectual, além de apresentar boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os EUA ganharem a corrida espacial contra a União Soviética pois o povo americano é superior ao povo russo."


Anfibologia ou Ambigüidade:

Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido à má elaboração gramatical.

Ex: "Venceu o Brasil a Argentina."
"Ele levou o pai ao médico em seu carro."


Acentuação :

É uma forma de falácia devido à mudança de significado pela entonação. O significado é mudado dependendo da ênfase das palavras.

Ex: compare: "Não devemos falar MAL dos nossos amigos." com: "Não devemos falar mal dos nossos AMIGOS".


Falácias tipo "A" baseado em "B" (Outro tipo de Conclusão Sofismática) :

Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.

Ex: "O Islamismo é baseado na fé."
"O Cristianismo é baseado na fé."
"Logo o islamismo é similar ao cristianismo."


Falácia da afirmação do consequente :

Esta falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional que não está nem do Modus ponens (afirmação do antecedente) nem no Modus Tollens (negação do conseqüente). A sua forma categórica é:

Se A então B.
B
Então A.

Ex: "Se há carros então há poluição. Há poluição. Logo, há carros."


Falácia da negação do antecedente :

Esta falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional que não está nem do Modus ponens (afirmação do antecedente) nem no Modus Tollens (negação do consequente). A sua forma categórica é:

Se A então B.
Não A
Então não B.

Ex: "Se há carros então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição."


Falsa dicotomia (bifurcação):

Também conhecida como "falácia do branco e preto". Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.

Ex: "Se você não está a favor de de mim então está contra mim."


Argumentum ad Crumenam :

Esta falácia é a de acreditar que dinheiro é fator de estar correto. Aqueles mais ricos são os que provavelmente estão certos.

Ex: "O Barão é um homem vivido e conhece como as coisas funcionam. Se ele diz que é bom, há de ser."


Argumentum ad Lazarum :

Oposto ao "ad Crumenam". Esta é a falácia de assumir que apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.

Ex: "Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito."


Argumentum ad Nauseam :

É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que quanto mais se diz algo, mais correto está.

Ex: "Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é."


Plurium Interrogationum :

Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.

Ex: "O que faremos com esse criminoso? Matar ou prender?"


Red Herring :

Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.

Ex: "Será que o palhaço é o assassino? No ano passado um palhaço matou uma criança."


Retificação :

Ocorre quando um conceito abstrato é tratado como coisa concreta.

Ex: "A tristeza de Joãozinho é a culpada por tudo."


Tu Quoque (Você Também):

Falácia do "mas você também". Ocorre quando uma ação se torna aceitável pois outra pessoa também a cometeu.

Ex: "Você está sendo abusivo."
"E daí? Você também está."


Inversão do Ônus da Prova :

Quando o argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento.

Ex: "A Fada-do-Dente deve existir, pois ninguém nunca conseguiu provar que ela não existe."


Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre



Diversos exemplos mais detalhados e melhor explicados em:
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002a.htm
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002b.htm
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002c.htm



Argumentos falaciosos: um pequeno compêndio para evitar a compra de gatos por lebres


Por Fredric Litto
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/


Todo mundo sabe o que é uma mentira. Feita de uma pessoa para outra, ou para muitas outras, é uma afirmação cujos fatos enunciados não correspondem à verdade. Mentiras são maneiras de evitar uma possível punição ou de encobrir uma situação ridícula; pode ser também uma estratégia para não comprometer outras pessoas injustamente. Afinal, ninguém gosta de ser, ou merece ser, vítima de mentiras no que elas têm de condenável porque escondem a verdade. Por exemplo, houve uma época no Brasil, quando todos sabiam que se o governo federal anunciasse que não ia fazer alguma coisa, como criar um novo imposto, baixar uma nova lei de emergência…. isso infalivelmente seria feito, e dentro de pouco tempo. A vítima de uma mentira sempre está em desvantagem porque não sabe a verdade, não tem a informação correta para tomar uma decisão acertada, podendo ainda se sentir em dúvida, num ceticismo perturbador, até que a verdade se imponha. A vítima de uma mentira age sob a influência de um ardil verbal. Acredita naquilo que supõe ser verdadeiro quando não o é. Podemos ser vitimados também por um outro tipo de desvio de pensamento que é tão perigoso e enganador quanto a mentira: a falácia.

Enquanto a mentira é uma informação falsa, uma falácia é um argumento falso, ou uma falha num argumento, ou ainda, um argumento mal direcionado ou conduzido. A origem da palavra "falaz" remete à idéia do deceptivo, do fraudulento, do ardiloso, do enganador, do quimérico. Para entender bem isso, é preciso lembrar que quando pessoas esclarecidas tentam convencer outras também esclarecidas a acreditar em suas afirmações, precisam usar argumentos, isto é, exemplos, evidências ou casos ilustrativos que confirmem a veracidade do enunciado. Como se vê, estamos falando de discursos, de enunciados, de declarações feitas com o fim de persuadir, levando alguém ou um grupo a acreditar numa coisa ou outra. Você acredita em tudo o que escuta ou lê? Claro que não. A diferença entre uma pessoa esclarecida e uma não- esclarecida é a maneira como ambas lidam com discursos: a primeira tem critérios para aceitar ou rejeitar argumentos; a segunda ainda não aprendeu os critérios para distinguir argumentos que carecem de fundamentação.

Note bem: não confunda mentiras com falácias. Mentiras são desvios ou erros propositais sobre fatos reais; falácias, por outro lado, são discursos, ou tentativas de persuadir o ouvinte ou leitor; promovendo um engano ou desvio, porque suas estruturas de apresentação de informação não respeitam uma lógica correta ou honesta, pois foram manipuladas certas evidências ou há insuficiência de prova concreta e convincente. Uma afirmação falaciosa pode ser composta de fatos verdadeiros, mas sua forma de apresentação conduz a conclusões erradas. Toda pessoa esclarecida, instada a elaborar argumentos, por força do trabalho que executa ou de situações cotidianas, deve reconhecer nos próprios argumentos o uso proposital do raciocínio falacioso (intenção de ludibriar) e a imperícia de raciocínio (lógica acidentalmente comprometida). De uma forma ou de outra, compra-se ou vende-se gato por lebre.

Uma vez sabendo identificar falácias, você vai começar a vê-las por todo lado. Nos discursos de candidatos a cargos políticos, nas notícias de jornal (tanto impresso quanto televisivo), nas reuniões de condomínio, nas frases de vendedores (de imóveis, de carros e planos de saúde, de cartões de crédito). Há quem cometa falácias sem malícia, meramente como resultado de raciocínio apressado ou ingênuo. Mas é mais freqüente encontrar falácias em argumentos de pessoas ou instituições que querem enganar o ouvinte, querem convencê-lo a concordar com o enunciado (seja votar, comprar ou decidir, manipulando a vontade do interlocutor).

Para quem é professor, por exemplo, é mais importante levar seus alunos a entender como identificar falácias enunciadas por outros, e como não cometer uma falácia, do que ensinar uma grande quantidade de fatos a serem memorizados e logo esquecidos. Aquilo que o professor ensina aos seus alunos deveria ficar com eles até o fim dos seus dias, protegendo-os de políticos capciosos, vendedores oportunistas e de vizinhos intimidadores, desejosos de manipular o pensamento dos seus ouvintes, enganando-os com argumentos falsos ou desviados.

Assim, uma falácia não é apenas um erro; é um erro de um certo tipo, que resulta do raciocínio impróprio ou fraudulento. A falácia tem todo o aspecto de um argumento correto e válido, embora não o seja. Esse é seu grande perigo: parece correto, mas não é, além do que, leva a outros erros de pensamento, como conclusões erradas. Existem três grandes categorias de falácias: (A) aquelas baseadas em ''truques de palavras''; (B) aquelas que representam a perversão de métodos de argumentos legítimos, especialmente o indutivo; e (C) aquelas que representam argumentos extraviados ou desencaminhados.

Para cada tipo de falácia daremos o nome, uma definição e um ou mais exemplos.
[O autor ficará feliz em receber de leitores sugestões de falácias aqui omitidas para serem acrescidas numa nova atualização].


Diversos exemplos detalhados em
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002a.htm
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002b.htm
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/id021002c.htm


Unless otherwise stated, the content of this page is licensed under Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License